Domingo de Páscoa da Ressurreição do Senhor

Hoje a Igreja celebra o Domingo de Páscoa da Ressurreição do Senhor.

Hoje é o primeiro dos domingos, aquele dia esperado que enche de esperança o tempo. Hoje celebra-se o evento-eixo, a pedra angular da arquitetura da nossa alegria. O Senhor ressuscitou e deu-se a conhecer aos seus discípulos. Atordoados que estavam com o facto da morte de Jesus, com muito mais razão os vemos surpreendidos com a notícia da sua ressurreição. É esse o anúncio que chega até ti. Pergunta-te agora como o receberás. E, ao mesmo tempo, recebe-o sem perguntas, como quando nos deixamos invadir por uma irresistível felicidade.

Habituamo-nos a um esquema que resume o percurso dos viventes em três etapas: nascimento, maturação e morte. É também assim que olhas para a vida em geral e para a tua vida, mesmo se preferes não pensar muito nisso. Parece que toda a vitalidade tende para um crepúsculo e que tudo o que chega à existência está, desde logo, destinado a partir. A ressurreição de Jesus, porém, baralha este ciclo. Deixamos de ser estes seres votados à morte. A morte deixa de ter a última palavra. Depois da morte ainda vem a vida, uma vida maior, uma vida que contagia, desde já, a tua vida.

 

Escuta esta passagem do Evangelho segundo São Lucas. [Ev Lc 24, 13-35]

Dois dos discípulos de Jesus
iam a caminho duma povoação chamada Emaús,
que cava a duas léguas de Jerusalém.
Conversavam entre si sobre tudo o que tinha sucedido. 
Enquanto falavam e discutiam,
Jesus aproximou-Se deles e pôs-Se com eles a caminho. 
Mas os seus olhos estavam impedidos de O reconhecerem.
Ele perguntou-lhes:
«Que palavras são essas que trocais entre vós pelo caminho?». 
Pararam, com ar muito triste,
e um deles, chamado Cléofas, respondeu:
«Tu és o único habitante de Jerusalém
a ignorar o que lá se passou nestes dias».
E Ele perguntou: «Que foi?».
Responderam-Lhe:
«O que se refere a Jesus de Nazaré,
profeta poderoso em obras e palavras
diante de Deus e de todo o povo;
e como os príncipes dos sacerdotes e os nossos chefes
O entregaram para ser condenado à morte e crucificado.
Nós esperávamos que fosse Ele quem havia de libertar Israel. 
Mas, afinal, é já o terceiro dia depois que isto aconteceu.
É verdade que algumas mulheres do nosso grupo
nos sobressaltaram:
foram de madrugada ao sepulcro,
não encontraram o corpo de Jesus
e vieram dizer que lhes tinham aparecido uns Anjos
a anunciar que Ele estava vivo.
Alguns dos nossos foram ao sepulcro
e encontraram tudo como as mulheres tinham dito.
Mas a Ele não O viram».

 

Ponto de oração

Dá que pensar a situação dos discípulos em relação a Jesus. Viam-no, mas os seus olhos não conseguiam aperceber-se de que era ele o viajante que se colocou a caminhar ao lado deles. Os discípulos estavam incrédulos perante o que julgaram ser o desabar das suas esperanças e essa incredulidade passou a determinar o modo como se relacionavam com a vida. Como deixaram de esperar e de crer, deixaram também de ver. A ressurreição de Jesus cura o teu olhar, que precisa de ser curado de feridas, resistências e incredulidades. Mesmo quando não o vês, Jesus está mais perto do que tu pensas. Confia-lhe, por isso, a tua história como os discípulos de Emaús o fizeram. Ele está agora a escutar-te.

 

Parte 2

Então Jesus disse-lhes:
«Homens sem inteligência e lentos de espírito
para acreditar em tudo o que os profetas anunciaram!
Não tinha o Messias de sofrer tudo isso
para entrar na sua glória?».
Depois, começando por Moisés
e passando pelos Profetas,
explicou-lhes em todas as Escrituras o que Lhe dizia respeito.
Ao chegarem perto da povoação para onde iam, 
Jesus fez menção de seguir para diante.
Mas eles convenceram-No a ficar, dizendo: 
«Ficai connosco, porque o dia está a terminar
e vem caindo a noite».

 

Ponto de oração

Jesus é o Mestre de que precisas. Só ele pode explicar-te o sentido das Escrituras. Só ele pode avizinhar o teu coração do sentido da vida. Confia-te a ele. Fala-lhe das tuas dúvidas, das nuvens que sobrecarregam de sombra a tua estrada. Mas escuta-o, sobretudo. Emprega tempo a ouvi-lo. Tempo gratuito, de qualidade. Tempo de amizade. Pede-lhe que permaneça contigo, à maneira do que aconteceu naquele dia em Emaús. Diz-lhe: “Fica comigo, Senhor, porque anoitece”.

 

Parte 3

Jesus entrou e ficou com eles.
E quando Se pôs à mesa, tomou o pão, 
recitou a bênção, partiu-o e entregou-lho.
Nesse momento abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-No. 
Mas Ele desapareceu da sua presença.
Disseram então um para o outro:
«Não ardia cá dentro o nosso coração,
quando Ele nos falava pelo caminho
e nos explicava as Escrituras?».
Partiram imediatamente de regresso a Jerusalém
e encontraram reunidos os Onze e os que estavam com eles, que diziam:
«Na verdade, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão».
E eles contaram o que tinha acontecido no caminho
e como O tinham reconhecido ao partir o pão.

 

Ponto de oração

A fé na ressurreição de Jesus restaura o teu mundo interior: cura as tuas feridas; repara as tuas desilusões; ilumina os teus medos; abre-te o sentido da vida, aquele mesmo que julgaste, por vezes, opaco e inacessível. Quando Jesus reparte contigo o pão sabes que ele está vivo, e não de maneira abstrata. Sabes porque ele acendeu um vigor de vida nova em ti. Mas o teu encontro com o Ressuscitado ficaria incompleto se tu não partisses ao encontro dos irmãos. A fé pascal é comunitária. Pede-te, por isso, que partas a reconstruir a comunhão.

 

Colóquio final

Faz-me tomar a tua ressurreição, Senhor, como princípio vital. O mundo fica recriado pelo acontecimento da tua Páscoa. Também quero sentir-me assim: quero deixar o homem velho que persiste dentro de mim e revestir-me da vida de Cristo. Ajuda-me a acolher o mistério desta páscoa como recomeço. Lembra-te que estou na estrada de Emaús. Ajuda-me a relançar a minha viagem a partir do encontro contigo.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, agora e sempre. Ámen.