Hoje é dia treze de Abril, Quinta-feira da Ceia do Senhor.
Desloca-te em silêncio, com a ajuda da tua imaginação, à sala onde tudo acontece. Prepara a tua disponibilidade. Abre o teu coração. Não precisas de mais nada. Aceita, a partir de agora, o que se vai seguir como um encontro de amor, pois são de amor as palavras e silêncios que te vão ser ditos, ambos com a mesma intensidade, bem como o desenho dos gestos e a memória acesa que depois permanecerá. Deixa-te convidar, hoje, para a última ceia de Jesus.
Há coisas que vemos de fora, como espectadores, e coisas que vemos por dentro, como testemunhas. Há realidades que conhecemos apenas por ter ouvido falar delas, há outras que nos habitam por direito próprio, porque foram vividas por nós. A partir de agora lembra-te disto: tu és convidado da ceia do Senhor. Não fiques a contemplá-la apenas de fora: tateia-a, perfura-a, abraça-a, deixa-te surpreender por ela, entra e toma o teu lugar.
Escuta esta passagem do Evangelho segundo São João. [Ev Jo 13, 1-15]
«Antes da festa da Páscoa,
sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai,
Ele, que amara os seus que estavam no mundo,
amou-os até ao fim».
Ponto de Oração
O que faz a diferença no amor de Jesus é ele ter-nos amado antes, antes de qualquer mérito nosso, e amado incondicionalmente até ao fim. Na prática quotidiana que conhecemos, o amor aparece demasiadas vezes ligado a factos contingentes, como resposta e consequência. Não raro, uma manifestação de amor vem premiar uma boa ação, à maneira de uma condecoração. Ora, o amor de Jesus é um investimento prévio de confiança. Jesus não nos pede garantias para oferecer-nos o seu amor. Sem esperar nada, ele dá-nos tudo. Ama-nos. Ama-te. E está disposto a repetir esse amor radical por ti em cada dia, até ao fim.
Parte 2
«No decorrer da ceia,
tendo já o Demónio metido no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão,
a ideia de O entregar,
Jesus, sabendo que o Pai Lhe tinha dado toda a autoridade,
sabendo que saíra de Deus e para Deus voltava,
levantou-Se da mesa,
tirou o manto e tomou uma toalha, que pôs à cintura.
Depois, deitou água numa bacia
e começou a lavar os pés aos discípulos
e a enxugá-los com a toalha que pusera à cintura.
Quando chegou a Simão Pedro, este disse-Lhe:
«Senhor, Tu vais lavar-me os pés?».
Jesus respondeu:
«O que estou a fazer, não o podes entender agora,
mas compreendê-lo-ás mais tarde».
Pedro insistiu:
«Nunca consentirei que me laves os pés».
Jesus respondeu-lhe:
«Se não tos lavar, não terás parte comigo».
Simão Pedro replicou:
«Senhor, então não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça».
Jesus respondeu-lhe:
«Aquele que já tomou banho está limpo
e não precisa de lavar senão os pés.
Vós estais limpos, mas não todos».
Jesus bem sabia quem O havia de entregar.
Foi por isso que acrescentou: «Nem todos estais limpos».
Ponto de oração
Deixa-te lavar por Jesus. Talvez não o saibas ainda, mas precisas que Jesus te toque, que ele se ocupe dos teus pés macerados dos caminhos, que ele se debruce sobre o que és e o que não tens conseguido ser, que ele cuide pacientemente da tua vulnerabilidade, amando-a e carregando-a aos ombros como se fosse sua. Talvez não o reconheças ainda, mas precisas baixar as defesas ao seu amor. Foges demasiado. Proteges-te por detrás de um muro de perguntas, adiamentos e dificuldades. Mas Ele está agora diante de ti, pronto a restaurar a tua vida. Deixa-te lavar por Jesus.
Parte 3
«Depois de lhes lavar os pés,
Jesus tomou o manto e pôs-Se de novo à mesa.
Então disse-lhes:
«Compreendeis o que vos fiz?
Vós chamais-Me Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque o sou.
Se Eu, que sou Mestre e Senhor,
vos lavei os pés,
também vós deveis lavar os pés uns aos outros.
Dei-vos o exemplo,
para que, assim como Eu fiz, vós façais também».
Ponto de oração
«Compreendeis o que vos fiz?» Terás já compreendido Jesus? Ele não pretende que o seu gesto permaneça único, mas que constitua um modelo para o teu agir. Ele dá-te o exemplo. Estarás disposto a servir a vida dos irmãos e a fazê-lo tomando os gestos de quem serve, não de quem manda; colocando-te a seus pés e não por cima da sua cabeça; despojando-te de ti mesmo em vez de te impores? «Compreendeis o que vos fiz?...Também vós deveis lavar os pés uns aos outros». Jesus aponta-te o caminho, e permanece a teu lado, encorajando-te a tornares a tua vida dom.
Colóquio final
Senhor Jesus, convidaste-me hoje para a tua ceia. Abriste-me a tua mesa e o teu coração. Colocaste-te diante de mim, não para julgar-me, mas para acolher-me. Tocaste com que esperança a minha vulnerabilidade. Derramaste óleo da consolação sobre a minha vida. Fazes-me tomar parte contigo. Ajuda-me a dizer sim. Um sim que acorde em mim a capacidade de amar tudo e de tudo reencontrar por dentro do amor.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, agora e sempre. Ámen.
