Rezar [com] as distrações

«Quando rezares, entra no teu quarto e, fechada a porta, ora a teu Pai que está em segredo». (Mt 6, 6)

 

As distrações são tema recorrente nas conversas sobre oração. Quantas vezes não ouço «não consigo concentrar-me»; «começo a pensar noutras coisas que não o que me propus»; «de repente lembro-me de tudo o que tenho para fazer». Ouço, com consciência de ter mesmo passado por isso. Tomar o tempo de oração torna-se quase tomar o tempo da distração a acontecer. Depois vem a culpa e o remorso de perda de tempo, com a sensação final, quase ao limite, de «não sei rezar», «não consigo rezar». E a oração, em vez de um momento de liberdade em e com Jesus, torna-se um peso e algo a evitar. Será? Obviamente que não. A questão não é a oração, mas saber lidar com o que se chama «distrações».

Para vivermos bem a oração há que encontrar e viver silêncio. Ele é fundamental para a verdadeira escuta do outro e, em último caso, de Deus. O nosso quotidiano é marcado por muita informação consciente e inconsciente. Recebemos em crescendo notícias, registos, comentários, tarefas, de muitos lados, levando muitas vezes à exigência de perfecionismo, de tudo fazer impecavelmente. Muito, há que reconhecer, é interessante e ajustado. No entanto, outro tanto acaba por ser ruído, muito ruído. E isso afeta o nosso encontro com Deus e connosco mesmos. Como acalmar toda essa agitação?

Ajuda encontrar um espaço e tempo de recolhimento íntimo com Deus, no quarto só nosso. Marcar esse momento, que seja cada vez mais recorrente que pontual, e permitir-se estar consigo e com Deus. Leve um texto, por exemplo, o Evangelho do dia, e uma graça que gostaria de receber de Deus. No momento escolhido, em posição confortável, busque concentrar-se na respiração. Se porventura os ruídos exteriores começarem a incomodar, busque uma música calma, usando auscultadores, e volte à respiração.

Em gesto determinado, faça o sinal da cruz, como marca de início do momento com Deus. Volte a concentrar-se na respiração durante cerca de um minuto e depois comece a ler o texto. Saboreie as palavras. Se a mente começar a levar para outros lados, não se agite. Repare por onde está a ir. Leva a pessoas? A coisas a fazer? A situações inesperadas?

Sem imediatamente julgar as «distrações» que despontam, escute-se nessa agitação a surgir e traga-as à oração. Se for de coisas a fazer, registe-as num bloco de notas. Se for de pessoas, o que será que esse pensamento está a trazer ao coração com essa recordação? Se for de situações, haverá algo pendente a fazer caminho? Conforme o tempo disponível, fique por aí, a saborear essa informação. Caso prefira, tome as respostas em consideração para outros momentos de oração, registando num bloco de notas as pessoas ou situações e, com tranquilidade, volte ao propósito inicial com que iniciou esta oração.

Mantenha sempre a respiração como orientadora e guia de tranquilidade e silêncio interior, permitindo que o Espírito ilumine de forma especial. Quando estiver prestes a terminar, agradeça tudo o que aprendeu com este momento. Agradeça de forma especial o silêncio vivido. Marque o final com o sinal da cruz, de forma calma e sentida.

 

 Paulo Duarte, sj

(Fotografia: Jodie Cook – unsplash.com)