Oração: encontro em alento divino

«O Senhor Deus formou o ser humano do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida, e este transformou-se num ser vivo». (Gn 2, 7)

 

A vida é movimento. Mesmo na maior quietude, a respiração provoca o movimento tanto dos pulmões como do diafragma, em profunda relação com o sempre presente batimento cardíaco. Fico-me pela respiração, inspirado pelo sopro divino que dá vida, para voltar a algo muito básico na oração: o ser e o estar.

A oração, como ato de presença, é de grande simplicidade. Voltar à base significa reconhecer-me agradecido a Deus pelo sopro de vida que me faz ser. A respiração não é um adereço à existência. Quando se está cansado, a respiração é ofegante. Quando se está com medo ou em stress, com o nervosismo a crescer, a movimentação pulmonar tem oscilações acentuadas e rápidas. Quando há calma, tranquilidade, serenidade, o «stand-by respiratório», para usar uma expressão da neuropsicóloga Susana Bloch, torna-se presença habitual. Fazer um pequeno teste respondendo, por exemplo, a «como estou?» ou «como me sinto?» desde a respiração, ajuda a situarmo-nos no que quero apresentar ao Senhor.

Na nossa tradição, a tendência é levar tudo para imediato racionalismo, concentrando tudo na cabeça. Imaginar Jesus a recolher-se em oração, quando se conhece um pouco mais da sua cultura, percebe-se que teria muito em conta a totalidade do seu Ser, onde o movimento seria uma realidade.

Proposta:

Tomar no mínimo 5 minutos diários. Encontre um espaço em que se sinta confortável. Para uns pode ser o total recolhimento. Para outros um sítio cheio de gente. Sentado ou a caminhar, o importante é que esteja no máximo de verdade consigo mesmo e com Deus. Faça um gesto de reverência para si e para Deus, com um sinal da cruz ou inclinação de corpo feitos com calma e dignidade. Sem pressas.

Tome consciência da respiração. Como está? Calma? Intensa, de cabeça e coração cheios de muito? Concentre-se nesse sentir. Sem pressas. Imagine Deus a moldar a sua Vida desde a respiração, desde quem é nas suas muitas dimensões.

Mantenha a verdade, sem julgamentos rápidos, do que possa sentir e de qualquer situação ou pessoa que lhe surja no pensamento ou coração. Entregue tudo isso ao Senhor.

 Volte a concentrar-se na respiração e agradeça a autenticidade e a presença de Deus na sua vida. Termine este tempo com um gesto de reverência para si e para Deus. Se ajudar, tome nota do que sentiu, das pessoas que lhe surgiram no pensamento e coração, da graça recebida.

Paulo Duarte, sj

Fotografia: Rosario Janza (unsplash.com)