«Senhor, ensina-nos a rezar [a vida]»

 «Senhor, ensina-nos a rezar». Quando passo por este pedido dos discípulos em S. Lucas ou em S. Marcos, imagino-os a desejar viver a serenidade de Jesus quando regressava do encontro com o Pai. Jesus dá-lhes palavras, na tão repetida oração do Pai-Nosso. Mas, será que a oração se restringe apenas a essa repetição? E na repetição ou simplesmente com palavras novas, como dar-lhe corpo? Sim, como dar corpo à oração? Como fazer da oração verdadeiro tempo e espaço de encontro?

Estas perguntas, mais ou menos assim formuladas, são recorrentes em muitas conversas que vou tendo. Dos mais novos aos que já têm mais idade, as dificuldades na oração são frequentemente assunto de pedido de ajuda ou conselho. A oração é do mais criativo que há, na qual cada um de nós se ajusta ao seu tempo existencial, de vida, e se encontra com o Senhor, «como um amigo fala com outro amigo». Por vezes, há receio da simplicidade. Como se quanto mais complicado, denso, rebuscado, mais importante é. Vemos como Jesus mostra o caminho de encontro com o Pai: na simplicidade da presença, que leva o gesto em direção ao próximo.

Os textos que proponho são um convite ao encontro com o Pai, com Jesus e com o Espírito na simplicidade da oração. Em cada um, os leitores encontrarão uma breve introdução sobre um aspeto da oração, seguindo-se uma proposta prática de espaço e tempo de encontro, a partir de aspetos práticos da vida, do quotidiano. O silêncio será recorrente, em conjunto com o corpo, em especial os sentidos, chamando o movimento habitado de autenticidade. Também a história pessoal e os acontecimentos individuais e do mundo serão convidados a fazer parte deste encontro. Afinal, como dissemos, a oração, além da simplicidade, leva à abertura ao outro, de modo a construir-se comunidade orante.

 

Para começar:

 No mínimo, 5 minutos.

 Tome contacto com o básico: a respiração.

 Coloque-se numa posição confortável, em ambiente tranquilo. Como sugestão, sente-se numa cadeira, com pernas e braços descruzados. Tronco direito sem rigidez.

 Depois de fazer com calma o sinal da cruz, sinta a respiração. Os movimentos de inspiração e de expiração. Sem forçar, simplesmente tomar contacto com esse básico vital.

 Agradeça. Em cada inspiração, agradecer o Espírito. Em cada expiração, agradecer por algo que se liberta. Terminado o tempo que se propôs, agradeça a força da Vida.

 Faça novamente com calma o sinal da cruz. E retome o seu quotidiano, na certeza da inspiração divina. 

Paulo Duarte, sj

Fotografia: Ray Shrewsberry (unsplash.com)