Rezar o outono... ou o que há a deixar cair

«Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor. Ele corta todo o ramo que não dá fruto em Mim e poda o que dá fruto, para que dê mais fruto ainda» (Jo 15, 1-2).

 

O outono é o tempo das cores de fogo. Do viçoso verde nas árvores passa-se aos tons quentes anunciadores de despedida ou de renovação. Tempo de queda da folhagem, deixando a nu cada tronco, preparando para cortar e podar, e assim dar força à árvore. Junta-se o natural com a mão humana, em profunda relação que contribui para o crescimento.

Metaforicamente, ao jeito tão seu em contar parábolas, Jesus mostra-se como videira, deixando-se podar pelo Pai. Cada um de nós está essencialmente ligado aos outros e a Deus. O que fazemos afeta toda a videira. Por isso, podemos permitir que simbolicamente sejamos atravessados pelo outono e assim perceber o que há que deixar cair e renovar: pessoas, acontecimentos, situações, relações, etc. ...

 Há realidades que caem naturalmente. No entanto, quando se pensa na poda, esta não pode ser feita sem um especial cuidado e conhecimento do que há a podar. Por isso, o silêncio, a oração, a escuta atenta do ser são fundamentais para que não ocorram precipitações em tomadas de decisões que impliquem ruturas. Assim:

Encontrar o espaço e o tempo para a oração. Se ajudar, ir para um jardim e simplesmente contemplar a queda das folhas. Aperceber-se da naturalidade do processo de renovação.

Fazer o sinal da cruz e respirar com tranquilidade, tomando consciência da presença de Deus.

Trazer à memória o quanto foi mudado e transformado na vida, tanto em grandes acontecimentos, como pequenas coisas que ajudaram no crescimento humano e espiritual. Agradecer o crescimento, em geral, e cada uma das situações recordadas, em particular.

Respirar fundo e colocar-se no presente, no aqui e no agora. Sem julgamento, com toda a verdade, autenticidade, dar-se conta do que se sente como necessidade de mudança.

O que pode ser mais fácil mudar? O que pode ser mais difícil? Em relação às mudanças mais fáceis, quando podem ocorrer? Que passos há a dar? Em relação às mais difíceis e complexas, registar e, assim que possível, pedir ajuda a quem possa orientar no processo de discernimento para que se caminhe para as decisões de forma ponderada, segundo a vontade de Deus.

Agradecer. Fazer pausadamente o sinal da cruz.

Paulo Duarte, sj

Fotografia: Aaron Burden (unsplash.com)